A história do “Dia do Aposentado” e um convite a “desaposentar-se”

Por APCEF/MG
Institucional
22 de janeiro de 2018

Nesta quarta-feira, dia 24 de janeiro, é comemorado o dia nacional do aposentado. A data é um marco na história da previdência social do Brasil, pois é uma homenagem à greve dos trabalhadores das estradas de ferro de 1906. O direito à aposentadoria só foi conquistado no nosso país após anos e anos de luta, mas, dentre os inúmeros acontecimentos, esta greve é um dos que mais se destacam. Os trabalhadores protestavam, dentre outras coisas, pelo retorno da carga horária de 10 horas por dia, 6 dias por semana – a carga tinha sido recentemente aumentada; e contra o desconto de 30% do salário para uma aposentadoria privada obrigatória, cujos cálculos eram motivo de desconfiança entre os funcionários.
Os conflitos violentos com a polícia deixaram ao menos dois trabalhadores mortos. Nos seus 15 dias de duração, a greve se alastrou pelo país e vários outros setores aderiram em solidariedade. Após as manifestações iniciais, a greve voltou a ocorrer em 1907, em 1917 e em 1919. Como consequência dela e de outras manifestações sociais, em 24 de janeiro de 1923 o advogado e deputado federal Eloy Chaves apresentou o primeiro projeto de Previdência Social do Brasil, acabando com as previdências privadas obrigatórias e garantindo o direito à aposentadoria.
Em homenagem a esse direito histórico conquistado com muita luta; e aos atuais aposentados brasileiros, essa semana faremos uma série de publicações sobre aposentadoria, saúde, qualidade de vida e direitos. Como primeira publicação, trouxemos uma crônica do escritor paranaense Domingos Pellegrini: “Desaposentar”. Este também é o nome de um movimento de aposentados criado pelo ex-empresário e atual aposentado Armelino Girardi, que visa melhorar a qualidade de vida dos aposentados. Para ele:
“não existe período mais enriquecedor, salutar, fértil, livre e cheio de prosperidade do que o de aposentado. Não estou me referindo apenas ao fato de se poder desfrutar a vida em sua plenitude, fazendo aquela viagem dos sonhos, lendo os livros acumulados na prateleira ou acompanhando o crescimento dos netos. Estou me referindo a novos sonhos e horizontes. Com a bagagem acumulada, aliada à experiência, maturidade e sabedoria, o indivíduo torna-se ainda mais apto a dar sua contribuição à sociedade, além de poder fazer uma análise mais equilibrada sobre seus valores, conceitos e metas de vida. Não se trata de voltar a ser o executivo ou o profissional que já foi no passado. O objetivo não é apregoar que as pessoas devam trabalhar como alucinadas pelo resto das suas vidas, mas, sim, a não tratar o ócio como um ícone de desocupação, inclusive e, principalmente, da mente. Existe um segundo tempo da vida, que deve ser enfrentado de forma inteligente, caso contrário, os exemplos mostram que há uma forte tendência a ocuparmos a mente com ideias que não contribuem para o futuro”.

“DESAPOSENTAR”
(Domingos Pellegrini)
Ele chegou à praça com uma marreta. Endireitou a estaca de uma muda de árvore e a firmou. Amarrou a muda na estaca e se afastou como pra olhar uma obra de arte. Não resisti a puxar conversa:
– O senhor é da prefeitura?
– Não, sou da Alice, faz quarenta e dois anos. Minha mulher.
– Ah… O senhor quem plantou essa muda?
– Não, foi a prefeitura. Uma árvore velha caiu, plantaram essa nova de qualquer jeito, mas eu adubei, botei essa estaca aí. Olha que beleza, já está toda enfolhada. De tardezinha eu venho regar.
– Então o senhor gosta de plantas.
– De plantas, de bicho, até de gente eu gosto, filho.
– Obrigado pela parte que me cabe… – Ele sorriu, tirou um tesourão da cinta e começou a podar um arbusto.
– O senhor é aposentado?
– Não, sou desaposentado. – Foi podando e explicando. “Quando me aposentei, já tinha visto muito colega aposentar e murchar, que nem árvore que você poda e rega com ácido de bateria… Sabia que tem comerciante que rega árvore com ácido de bateria pra matar, pra árvore não encobrir a fachada da loja? É… aí fica com a loja torrando no sol!”.
Picotou os galhos podados, formando um tapete de folhas em redor do arbusto. – “É bom pra terra… tudo que sai da terra deve voltar pra terra… Mas então, eu já tinha visto muito colega aposentar e murchar. Botando bermuda e chinelo e ficando em casa diante da televisão. Ou indo ao boteco pra beber cerveja, depois dormindo de tarde. Bundando e engordando… até que acabaram com derrame ou infarto, de não fazer nada e ainda viver falando de doença”.
Cortou umas flores, fez um ramalhete: – “Pra minha menina. A Alice. Ela é um ano mais velha que eu, mas fica uma menina quando levo flor. Ela também é desaposentada. Ajuda na escola da nossa neta, ensinando a merendeira a fazer doce com pouco açúcar e salgados com os restos dos legumes que antes eram jogados fora. E ajuda na creche também, no hospital. Ihh… A Alice vive ajudando todo mundo, por isso não precisa de ajuda, nem tem tempo de pensar em doença”.
Amarrou o ramalhete com um ramo de grama, depositou com cuidado sobre um banco. – “Pra aguar as mudas eu tenho que trazer o balde com água lá de casa. Fui à prefeitura pedir pra botarem uma torneira aqui. Disseram que não, senão o povo ia beber água e deixar vazando. Falei pra botarem uma torneira com grade e cadeado que eu cuidaria. Falaram que não. Eu teria que ficar com o cadeado e então ia ser uma torneira pública com controle particular, e não pode”.
Sorriu, olhando a praça. – “Aí falei: então posso cuidar da praça, mas não posso cuidar de uma torneira? Perguntaram, veja só, perguntaram se tenho autorização pra cuidar da praça! Nem falei mais nada. Vim embora antes que me proibissem de cuidar da praça… Ou antes que me fizessem preencher formulários em três vias com taxa e firma reconhecida, pra fazer o que faço aqui desde que desaposentei… Tá vendo aquele pinheiro fêmea ali? A Alice que plantou. Só tinha o pinheiro macho. Agora o macho vai polinizar a fêmea e ela vai dar pinhões”.
– Eu nem sabia que existe pinheiro macho e pinheiro fêmea.
– Eu também não sabia, filho. Ihh… aprendi tanta coisa cuidando dessa praça! Hoje conheço os cantos dos passarinhos, as épocas de floração de cada planta, e vejo a passagem das estações como se fosse um filme!
– Mas ela vai demorar pra dar pinhões, hein? – falei, olhando a pinheirinha ainda da nossa altura. Ele respondeu que não tinha pressa.
– Nossa neta é criança e eu já falei pra ela que é ela quem vai colher os pinhões. Sem a prefeitura saber… e a Alice falou que, de cada pinha que ela colher, deve plantar pelo menos um pinhão em algum lugar. Assim, no fim da vida, ela vai ter plantado um pinheiral espalhado por aí. Sem a prefeitura saber, é claro, senão podem criar um imposto pra quem planta árvores…
– É admirável ver alguém com tanta idade e tanta esperança!
Ele riu: – Se é admirável eu não sei, filho, sei que é gostoso. E agora, com licença, que eu preciso pegar a Alice pra gente caminhar. Vida de desaposentado é assim: o dinheiro é curto, mas o dia pode ser comprido, se a gente não perder tempo!


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Fontes:
Jornal da Prefeitura de Jundiaí
Jundiaí na história
Aposentadoria: Fim ou recomeço?

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